sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Morte de um ator.

Ela era uma pessoa que gostava de estar em evidência sempre, adorava ser notada, sentia prazer em perceber os outros conversarem sendo ela o assunto. Para isso, viveu ao menos dez de seus trinta anos a inventar doenças, a zombar dos outros, a passar, de propósito, pelas calçadas das obras que encontrava nas ruas da cidade.

Chorava sem motivo para ganhar atenção, por vezes fingia desmaiar nos coletivos lotados e estapeava algum homem com aparência humilde ou bêbado enquanto gritava que estava sofrendo assédios sexuais.

Poucos os que realmente gostavam dela. Eram esses: sua família e dois ou três amigos (as). A maioria a aturava, pois ela tinha algo na sua personalidade que fazia as pessoas temerem-na.

Eis que a vida - pegadinha do malandro que é - lhe pregou uma peça no maior dia de evidência de sua vida, disse ela a mãe este ser o dia mais feliz de toda sua existência, dia do seu casamento.

Já no altar, junto do noivo, do padre, dos padrinhos e dos coroinhas, se sentido uma verdadeira deusa no meio de toda aquela armação ela repetia as palavras que o padre lhe soprara, na parte do juramento de fidelidade ao cônjuge. Quando, de repente, um peido, escandaloso e impossível de segurar lhe escapou das entranhas. O coroinha que mantinha os olhos na noiva explodiu em risadas, enquanto gritava:

- Ela peidou, ela peidou.

Ela olhou para os convidados. Nisso todos eles chegaram até a engasgar com a gargalhada. O som estridente das risadas ecoou por toda a igreja e penetrou de forma abrupta o seu cérebro. Ela olhou para cima e viu a escultura pregada na cruz ganhar vida de tanto rir.

Correu como louca pelo tapete vermelho, desceu as escadas da igreja, entrou no carro todo enfeitado com latinhas amarradas por cordinhas na parte traseira do automóvel e saiu cantando os pneus.

O carro foi encontrado, ela não, mas para sempre, para os convidados daquela cerimônia e suas próximas gerações, sua historia estará eternamente viva.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olha, amigo... eu achei hilária a sua história. Mais que isso, achei que foi uma vingança. Você se vingou dessa pessoa a ridicularizando com a comicidade da situação que para ela foi um constrangimento sem comparações. Uma pergunta que me vem: "onde será que você se inspirou para fazer essa personagens? Em uma pessoa real que você teve o desprazer de cruzar os caminhos ou seria uma característica de comportamento / personalidade que você não gosta de encontrar nos outros e, por extensão, em você?"
Um cheiro!

Vinícius Vilches Vieira disse...

Não tinha pensado nisso, imagina a cena! rs.

Às vezes acontece coisas inesperadas, pode acontecer com qualquer um, mas a sociedade não perda, ri, zomba e comenta até a vítima, "explodir", de ódio. Aí acontece coisas como a da história, ou não. A pessoa sai correndo e foge de todo mundo, volta ou não, mata todos, xinga todos ou simplesmente não liga (o que é muito difícil. Para isso tem que ter um super controle).

Obs: Eu não quero nem imaginar como se inspirou! rs.

Abração!!!

Cris Graça disse...

Muito bom meu amigo!
Suas palavras tem o poder de envolver o leitor, acredito que nesta crítica, claramente deixou uma lição...
Quem tem merda na cabeça peida pela boca...acreditando então q o "peido" foi sacanagem da pobre coroinha q aceitou este papelão...rs

Te adoro!!! BeijO! =]