Ela era uma pessoa que gostava de estar em evidência sempre, adorava ser notada, sentia prazer em perceber os outros conversarem sendo ela o assunto. Para isso, viveu ao menos dez de seus trinta anos a inventar doenças, a zombar dos outros, a passar, de propósito, pelas calçadas das obras que encontrava nas ruas da cidade.
Chorava sem motivo para ganhar atenção, por vezes fingia desmaiar nos coletivos lotados e estapeava algum homem com aparência humilde ou bêbado enquanto gritava que estava sofrendo assédios sexuais.
Poucos os que realmente gostavam dela. Eram esses: sua família e dois ou três amigos (as). A maioria a aturava, pois ela tinha algo na sua personalidade que fazia as pessoas temerem-na.
Eis que a vida - pegadinha do malandro que é - lhe pregou uma peça no maior dia de evidência de sua vida, disse ela a mãe este ser o dia mais feliz de toda sua existência, dia do seu casamento.
Já no altar, junto do noivo, do padre, dos padrinhos e dos coroinhas, se sentido uma verdadeira deusa no meio de toda aquela armação ela repetia as palavras que o padre lhe soprara, na parte do juramento de fidelidade ao cônjuge. Quando, de repente, um peido, escandaloso e impossível de segurar lhe escapou das entranhas. O coroinha que mantinha os olhos na noiva explodiu em risadas, enquanto gritava:
- Ela peidou, ela peidou.
Ela olhou para os convidados. Nisso todos eles chegaram até a engasgar com a gargalhada. O som estridente das risadas ecoou por toda a igreja e penetrou de forma abrupta o seu cérebro. Ela olhou para cima e viu a escultura pregada na cruz ganhar vida de tanto rir.
Correu como louca pelo tapete vermelho, desceu as escadas da igreja, entrou no carro todo enfeitado com latinhas amarradas por cordinhas na parte traseira do automóvel e saiu cantando os pneus.
O carro foi encontrado, ela não, mas para sempre, para os convidados daquela cerimônia e suas próximas gerações, sua historia estará eternamente viva.