domingo, 23 de novembro de 2008

Sacada (por uma visão melhor).

Agora são duas horas e trinta e nove minutos. Acabou de trocar, trinta e oito para trinta e nove. Sim, o tempo. Madrugadas de domingo, todos sabem e poucos se recordam: o primeiro dia da semana. Estou cá a escrever. Tantas coisas e pensamentos, cada um mais rápido que o outro. Muitas coisas a dizer e é impossível dizer algo que não seja a capacidade de não dizer nada, incapacitado pela quantidade de pensamentos.

Duas e quarenta e três, minha vontade de escrever na sacada por fim vai se concluir na próxima semana. Pedi meu notebook hoje, mas não faço questão disso, nunca gostei muito de computador. Escrevo, geralmente, no papel. Esse texto aqui está sendo direto no PC, para economia de tempo. No papel demora mais para postar, claro. Escrevo lá na sacada onde eu posso ter uma ótica ímpar da cidade. Aqui no quarto é bom, mas não há vento, nem movimento. A não ser os desses dedos controlados automaticamente pela vontade de se libertarem e gritarem ao mundo num silêncio assustador que causam as palavras postadas nesse blog barato.

Na sacada é muito melhor, pois vejo metade paisagem (se é que se pode chamar aquilo de paisagem) e a outra metade concreto. Vejo mais dá realidade. Vejo um prédio a minha frente, outro ao meu lado esquerdo. E do meio para direita existe uma grande via axial da cidade de São Paulo, a Radial Leste. Do lado da Radial o metrô, depois dele casas, menos cimento empilhado. Um pouco mais distante das casas uma favelinha, ou seja, a favelinha completa a pequena maquete, resumo, que possuo no meu quintal, da nossa maravilhosa São Paulo: a desigualdade. Será melhor para mim, talvez, na sacada, por ver o mundo mais de perto; minha visão será menos distorcida. Quem sabe eu não consigo entender um pouco mais das coisas do mundo? Lá, eu voltarei à realidade construída para nós. Obrigado, senhores das construtoras, o sol só pega na metade do apartamento. No quarto, o único barulho quem faz é o vento e ele me devolve para a realidade. Pode ser que aqui eu não saiba de nada, afinal eu não vejo o mundo.

E novamente o querido papel foi deixado de lado, por uma circunstância não escolhida por mim. O reencontro com o meu pensamento em constante agitação se dá só nas noites. À noite a cidade faz silêncio e assim eu posso observá-la. Essa hora os telefones já não tocam, as pessoas já não falam e a sacada está sem luz. Minha casa às vezes é meio caverna, não há sempre luz em todos os cômodos. Mas alguns dias atrás, resolvi não colocar luz lá fora, pois fui contemplado com um casal de passarinhos. Eles fizeram ninho naquele buraco onde se põe a lâmpada. Por isso, resolvi comprar um notebook. Agora, são três e quarenta e três, eu vou ao meu quase definitivo escritório para pensar nas disposições dos elementos, como vou fazer para deixar aquele pequeno espaço confortável?


PS. Difícil escrever algo tão pequeno assim. Estou surpreso comigo.

7 comentários:

Vinícius Vilches Vieira disse...

aha! Descobri! Estava quase explodindo de curiosidade, você e a sua estratégia de marketing funcionou, não aguentei e vim ler, não vale!

Bom, meus parabéns pela compra, sei que vc não concorda muito, mas veja pelo lado bom da coisa, minha professora sempre dizia: "Pensem em cada folha de papel que vocês usam como se fosse uma folha de uma árvore." Pois é, agora vc vai contribuir para a natureza. rs!

abraço, saudade!!!

Marcelo Fabri disse...

Prosa livre é legal. Você acaba por falar (escrever) de sacadas, luzes, pássaros e computadores. Talvez eles nunca se encontrariam se tivesse bolado esse texto com calma.
Gostei muito da sua idéia de escrever na sacada. è um pequeno ateliê, ou escritório, como queira.

RobertaBarbosa disse...

Meu querido...vc e seus devaneios na sacada do seu Ap,rs...nada mais urbano, e um tanto quanto poético..A cidade é assim: um marasmo repleto de falsos agitos...A solidão preenchida por fragmentos superficiais e um tanto quanto caóticos...Escrever nos incita a liberdade, presos que somo nós a esta gigante "selva de pedras"

Anônimo disse...

E aí velinho ts ts, qual é o problema?

Aqui quatro e cinquenta, o mesmo fuso que aí, mas não a mesma estação, o metrô passando lá fora, se estiver por aí, já já também ouvirá.

Ouviu?
Não, dormiu.

Ah, essas idéias, eu tenho um problema, uma doença, faço vigília com reza e água benta pra manter afastado aquele espírito do mal que me jogava da cama e me puxava pro computador ao mesmo tempo que possuia minha alma me atormentando com pensamentos diversos vindo em camadas diferentes cada um em sua linha do tempo.

Hoje aprendi, ou quase, reorganize as idéias, resuma os pensamentos, priorize-os, se não resolver, não escreva, fale, grave, ou agudo se for o caso. Ou vá pra piscina tomar um sol.

Mas, se preocupe menos com a desigualdade, ela sempre existirá, é a Natureza. Não tente vê-la com seus olhos, mas com o do Big Boss que sabia o que fazia, no mínimo dos deixar malucos.

E cuidado! O perigo não está nas mãos do adolescente sem pespectiva que empunha o treisoitão, e sim nos dedos ágeis do rapaz inquieto de classe média que manipulado por uma dialétiva víl, possa tentar melhorar o mundo na tentativa de homogenizar o impossível desrespeitando um princípio que ele mesmo defende.

A diferença. Viva-a, aceite e poderá mudar aqueles que desejarem te ouvir, ou ler.

Tenha certeza de que somente uma minoria da maioria se dedica ao crescer como o garoto que clareia as idéias no teclado em quanto escurece os pulmões com mais um trago.

Esses terão seus méritos.

Deixemos de valorizar as vítimas, os fracos, esses protegeremos, de leve e nem sempre, como o pai faz com o filho, de longe sem dar bandeira pra ciança não mimar. E valorizemos os fortes, ou diria os curiosos pois são eles que olham tudo com certa distância, frieza diriam os homens vulgares dos Anacletos.

Curiosos, esses inquietos que se dedicam com o coração, e mudam o mundo com a revolução da pergunta, não da verdade.

Outro metrõ, mais um café e cama.

Cara, que favelinha? Nunca percebi!

[]
primo

Deh disse...

Olá.
Sim, cheguei do nada.
Vim por causa do blog do Marcelo Fabri, li seu comentario lá e fiquei curiosa sobre a prosa livre.

Gostei. E muito.

Sacadas são legais, talvez seja por essa sensação de contato com o mundo. Apesar de achar q é um visão de cima. Afinal vc não esta fazendo parte do contexto, é apenas observador.

Mas sem duvida vento é otimo!

Bem, já saciei a minha curiosidade. Posso voltar mais vezes?
rs*

Bjos

Unknown disse...

Curioso esse grito mudo que temos entalado.
Não é o grito de um assunto específico. Talvez somente o grito da existência, que não pode ser traduzido em palavras. Por não entendermos esse mistério, falamos (escrevemos) coisas simplesmente por fazer, como se tivéssemos necessidade de provar algo.

Aline Manrique disse...

Gosto muito de passar por aqui e saber o que se passa, adorei este texto, é meio antigo mas muito sincero e realista...
Continue assim escrevendo, e postando para se expressar ao mundo.

Beijosss TE AMO